A BABÁ DE TÚLIO
Certamente GG Márquez nunca morou na vilazinha estranha e esquecida onde nasci e me criei, lá perto do fim do mundo. Mas quem conhece a Macondo do escritor poderá sentir-se perfeitamente em casa em Itambí, lugar de acontecimentos insólitos e de situações divertidas e imperfeitas, como a própria natureza humana.
Veio morar em nossa rua, certo dia, uma senhora baiana com seu filho pequeno, o cachorro e uma bagagem imensa. Foram se acomodando aos poucos diante daqueles olhares maldisfarçadamente curiosos da vizinhança afoita por novidades.
Chamava-se Dona Elza, lembro bem. Era atarracada, cabelo meio zangado, expressão forte e gênio não menos. Cuidava da vida dela enquanto a Vila inteira observava de longe. Estranhos eram até bem vindos, mas tinham seus segredos espreitados e a eles acresciam-se mistérios insondáveis...
Tudo ia muito bem até que Dona Elza resolveu que seu filhinho precisava de uma babá. Afinal, o trabalho não lhe dava folga e o menino ainda pequeno ficava mesmo à deriva.
Foi aí que, sem dar explicações à Vila, ela contratou para os serviços de babá um homem. Na verdade, era um mulato forte, temperamental, muito bravo e... gay. A Vila inteira não entendeu o que julgava ser uma insanidade. Dona Elza só podia ter enlouquecido! Correu mesmo à boca pequena a idéia de interditá-la. (Quem teria peito para isso?)
Ela fez vista grossa, fechou os olhos e os ouvidos: afinal, estava satisfeita com os cuidados precisos e as atitudes firmes que o babá Fratonildo (esse era o nome dele) dedicava ao seu pequeno Túlio. A Vila incomodada remexia, borbulhava, revirava como um vulcão prestes a rugir... Mas o que se há de fazer?
Nas manhãzinhas, era obrigada a conviver com Fratonildo levando Túlio para o passeio na única pracinha do lugar. Justiça seja feita, como ele cuidava bem do menino! As fofoqueiras e os aposentados, os bêbados e os desvalidos, crianças, cachorros, gatos e vadios que freqüentavam a pracinha foram aos poucos se acostumando com aquela idéia maluca de Dona Elza.
Até que um dia, misturado ao drama, puderam tirar da situação um pouco daquela escassa alegria que o lugar também oferecia. Era um dia chuvoso e frio. Fratonildo, vendo que o menino patinava, prestes a mergulhar na poça d’água, gritou com aquela voz de contralto, bastante afetada, borboletando no ar os braços compridos: – Sai da lama, Túlio!
A Vila inteira riu! Riu muito e fez disso um bordão: dali em diante, em toda situação de perigo ou na iminência de pequenas e grandes tragédias inesperadas, o povo gritava numa única voz: – Sai da lama, Túlio!
Desde então, ninguém mais se lembrou que Fratonildo era uma babá e que era gay. Afinal, fora acolhido como um deles! Uma bela vitória daquela baiana alienígena, com nome de leoa, chamada Elza.
Veio morar em nossa rua, certo dia, uma senhora baiana com seu filho pequeno, o cachorro e uma bagagem imensa. Foram se acomodando aos poucos diante daqueles olhares maldisfarçadamente curiosos da vizinhança afoita por novidades.
Chamava-se Dona Elza, lembro bem. Era atarracada, cabelo meio zangado, expressão forte e gênio não menos. Cuidava da vida dela enquanto a Vila inteira observava de longe. Estranhos eram até bem vindos, mas tinham seus segredos espreitados e a eles acresciam-se mistérios insondáveis...
Tudo ia muito bem até que Dona Elza resolveu que seu filhinho precisava de uma babá. Afinal, o trabalho não lhe dava folga e o menino ainda pequeno ficava mesmo à deriva.
Foi aí que, sem dar explicações à Vila, ela contratou para os serviços de babá um homem. Na verdade, era um mulato forte, temperamental, muito bravo e... gay. A Vila inteira não entendeu o que julgava ser uma insanidade. Dona Elza só podia ter enlouquecido! Correu mesmo à boca pequena a idéia de interditá-la. (Quem teria peito para isso?)
Ela fez vista grossa, fechou os olhos e os ouvidos: afinal, estava satisfeita com os cuidados precisos e as atitudes firmes que o babá Fratonildo (esse era o nome dele) dedicava ao seu pequeno Túlio. A Vila incomodada remexia, borbulhava, revirava como um vulcão prestes a rugir... Mas o que se há de fazer?
Nas manhãzinhas, era obrigada a conviver com Fratonildo levando Túlio para o passeio na única pracinha do lugar. Justiça seja feita, como ele cuidava bem do menino! As fofoqueiras e os aposentados, os bêbados e os desvalidos, crianças, cachorros, gatos e vadios que freqüentavam a pracinha foram aos poucos se acostumando com aquela idéia maluca de Dona Elza.
Até que um dia, misturado ao drama, puderam tirar da situação um pouco daquela escassa alegria que o lugar também oferecia. Era um dia chuvoso e frio. Fratonildo, vendo que o menino patinava, prestes a mergulhar na poça d’água, gritou com aquela voz de contralto, bastante afetada, borboletando no ar os braços compridos: – Sai da lama, Túlio!
A Vila inteira riu! Riu muito e fez disso um bordão: dali em diante, em toda situação de perigo ou na iminência de pequenas e grandes tragédias inesperadas, o povo gritava numa única voz: – Sai da lama, Túlio!
Desde então, ninguém mais se lembrou que Fratonildo era uma babá e que era gay. Afinal, fora acolhido como um deles! Uma bela vitória daquela baiana alienígena, com nome de leoa, chamada Elza.
2 Comments:
Ah, Cleir!!! Só você, sabe??
:-)))))))))
To viciada nisso aqui. Entro milhões de vezes pra ver se você atualizou, se colocou mais textos coisa e tal.
Eu, que me ocupo poucas linhas e me conto em poucas palavras, "entro" nas suas histórias e mergulho fundo. É tão bommmmmmmm!!!!!!!!!!!!!
:-)
Beijo grandão procê!!
Margarida
to esperando outros textos!!!
:-)
beijos!!!!
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