quarta-feira, novembro 15, 2006

A MISTERIOSA HISTÓRIA DE SER MÃE

Noite passada eu sonhei com meus filhos. Eles eram ainda bem pequenos, o mais novo quase um bebê, o mais velho ali pelos seus cinco aninhos! Acordei sem eles dormindo ao meu lado, aliás, como vinha acontecendo nas últimas noites, por conta de um feriado prolongado. Fiquei o dia todo assim meio esquisita, sonâmbula, procurando meu sonho perdido pelos cantos da casa, debaixo do travesseiro, nos desvãos de minha pobre alma amanhecida e carente de mãe.

Andei pela cidade dirigindo o carro, fiz um monte de coisas, conversei ao telefone, corri velozmente no ritmo de uma esteira de academia, enviei e recebi e-mails, conferi diversas vezes meu orkut e nada daquele vazio passar... Foi então que encontrei a ponta de um cordão suspenso, ou melhor, de dois cordões lembrando uma mesma história, a misteriosa história de ser mãe. Como um filme doce e suave passando ao revés diante dos meus olhos comovidos.

Estava eu ali, lembrando que um dia, cada qual a seu tempo, fomos um só. Que estivemos tão indissoluvelmente atados um ao outro que de nada adiantava agora trezentos quilômetros de lonjura, obrigações universitárias inadiáveis, novos compromissos pessoais, a vida independente como uma fera rugindo lá fora! Nada, nunca, nem a mais afiada das tesouras haveria de nos separar daqueles tempos de água e placenta, de dor e gemido, de choro, choro e riso, riso, riso...

Lembrei do exato momento em que cada um veio à luz. Pensei como é tudo tão perfeito nesse velho plano de Deus! Parir, lançar os filhos ao mundo numa vertiginosa busca de cumprir destinos, de fabricar destinos. Mantê-los por perto mesmo que longe; aceitá-los longe querendo tê-los por perto, tão perto, quase dentro... Amá-los infinitamente mais que a mim mesma e, no entanto, deixar que a vida por si se incumba de traçar-lhes os roteiros de viagem...

Pensei que toda criança que nasce, lançando ao vento seu destino, reinventa um coração de mãe, vulnerável e inquieto. Percorre de novo o mesmo caminho místico do coração de mãe, sobressaltado e arfante. Plantado no presente, um coração de mãe sonhando com futuros incertos, resgatando nostálgicos passados, cuidando para que o dia passe em perfeição e harmonia. Um coração sofredor e preciso, antecipando o próximo minuto, adivinhando o segundo seguinte no tempo dos filhos.

Pode ser que esse não seja todo o sentido da vida: o mundo é um mistério, afinal, e nele há muitas armadilhas... Mas só por ser mãe já valeu a pena existir.

6 Comments:

Blogger [m_] said...

ai, caramba......... que maravilha!!!!!!!!!

cada palavra, cada frase, cada parágrafo - o texto inteiro me tocou profundamente.

acho que não adianta muito a gente se preparar pra viver determinadas coisas, mas mesmo assim venho me preparando pra viver o momento da separação [que nem é separação, porque eles continuam de várias outras formas dentro da gente]...

copiei seu post.
guardei pra ler milhões de vezes.

e, chorona que sou, você já imagina como estou agora, né?

um beijo e obrigada por colocar em palavras coisas que eu sinto e não sei dizer.

:***

7:10 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tudo sobre minha mãe!
Almodóvariano.
Um beijo

9:13 AM  
Anonymous Anônimo said...

Pois é, mãe... depois de vários dias aí perto eu imagino como você deve estar se sentindo agora, porque é como eu tô me sentindo também.
Já tô com saudade mas daqui há uns dias eu tô aí de novo...
Brigado por tudo!
beijão!

10:19 AM  
Blogger Stephanie said...

Cleir,

muito lindo seu texto. Vou recomendá-lo pra minha mãe!

Essa relação mãe e filho(a) é muito mágica. É de intensidade e beleza, de transformações, crescimentos, saudades, excessos, de um amor sem tamanho.

e sempre que vejo Mães confessando as dores e delícias da experiência, eu fico pensando o quanto ter um filho enriquece um vida.

mas pra mim, ainda vai demorar!

beijos!

4:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

É impressionante o jeito que você escreve,é muito difícil encontrar um texto que tenha tanto sentimento assim!!
Adorei linda ...saudades =/
Beijinhos
;**

8:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

É... esse vewio do útero mesmo. Acho que o único homem capaz de escrever um trem desse é o Chico Buarque, e olha lá...

Beijo pra vc, e pros meninos. Que tenham juízo.

7:24 PM  

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